Pé de Palavra
[mas pode pedir também]
domingo, 17 de abril de 2011
Coincidências não existem
Aqui na França saio do trabalho num restaurante. Driblo turistas pra chegar até a livraria e comprar postais em branco, um estojo de aquarelas e um livro em francês, pra ver se a evolução da escrita acompanha a da linguagem oral. Compro um livro usado, famoso, mas que eu nunca tinha ouvido falar. A historia, autobiográfica, é sobre uma menina francesa que pega um barco num rio no Mekong. O livro ganhou o prêmio Goncourt de literatura.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
sábado, 11 de dezembro de 2010
to sem acento
domingo, 5 de dezembro de 2010
é sempre bom ler uma poesia antes de dormir
É sempre bom ler uma poesia antes de dormir
Nestes tempos novos
Nada de histórias
Rezas, pedidos
Diante do travesseiro
É bom ler uma poesia
Pra acalmar o pensamento que não vai querer descansar
É do pensamento
A ânsia de ver nascer o dia
Ter tudo a seu alcance
Falar o verbo correto
Tirar da poeira as palavras escusas
Deixa entrar a luz em tudo
Se depender do pensamento
Não se dorme
É a conta, o horário, os segundos para atravessar-a-rua, não-perder-o-ônibus, chegar-cedo-no-trabalho, almoçar-rápido-no-horário, pagar-o-aluguel-no-banco, chegar-só-dez-minutos-atrasado-no-curso-de-alemão
Pensamento não deixa vir a escuridão do sono da cabeça
Não deixa vir a poesia que brota
Por isso: é sempre bom ler uma poesia antes de dormir
A poesia apaga a luz do pensamento
Faz a cabeça ficar escura
Como numa sala de cinema
Pronta pra projetar os sonhos e pesadelos escondidos na penumbra do sono
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(jue - 2009)
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
uma poesia, por favor
Poetas buscam retorcer aquilo que todos vêem - e temem ou não conseguem dizer - até extrair a beleza ou feiúra do mundo ao redor.
Por isso, digo: há cura na poesia, placebo revigorante.
Salvem os poetas!
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Biblioteca londrina bombardeada em 1940* |
sábado, 30 de outubro de 2010
Café com leite
(detalhe que nao faz parte do texto: nao existe o til aqui no teclado espanhol, nao achei ainda.)
Com a tela em frente
Me pergunto
Me atento
O que faz, JuE alí virtualmente?
Nao sei fazer repente
Nem faço rima decentemente
Mais figura que linguagem
Menos terra mais pastagem
Ai que feliz o dia
Em que a pedagogia
Me convencia e insistia
Também brinca quem nao sabe brincar
Mas o que eu nao sabia
É que essa tal de poesia
Me iludia e me fazia
Só umas palavrinhas ajuntar
Ai que comixao,
Que dor no baço
Um enchaço no meu traço
É melhor, vou apagar
Faz isso nao,
Descance e deite
Depois no traço
Bota um enfeite
E agora lembre bem
O que é ser café com leite.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
semifinal
Agora, só leio histórias de desamor. Tateio nas conjugações dos verbos outros tempos para o meu português gasto. Anseio por literaturas que me libertem do adeus esquecido na cabana daquela praia deserta do nosso namoro de outono.
Tento triunfar perante as horas que não passam. Dia a dia. Dia-a-dia. Passado, futuro.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Hala 30
30 anos aprendendo a ser humano. Mas o mundo não deixa. Pra que ser gente, se nos tratam como cachorros? Pensou em espanhol no fundo da sua oficina mecânica em Praha 7, a 8536 km de Havana. Numa cidade onde os bairros tem números e os apartamentos tem nomes a gente nunca sabe onde vai parar, e foi assim que Julio se encontrava, como eu, numa garagem de uma construção semi-demolida no subúrbio da capital da República Tcheca, ao lado de uma sala de ensaio e um depósito de chá.
Se você procura por endereços que não estão onde deveriam estar, pode acabar encontrando pessoas que sabem mais de você do que você mesmo. Sabem, por exemplo, onde você está agora, e você não. Assim eu conhecia Julio e ele a mim. Em Cuba os chás e as peças de carro raramente estão no mesmo lugar. Nem os chás e teatros, ele ria. Ria sem saber o que fazer dos seus 30 anos, do outro lado do mundo. É que quando não se tem nada a perder, é hora de se perder por aí. “A gente só não perde as sensações. Só se puser no papel.” - que voou com o vento, pra longe da oficina.
Julio, ele não sabia, encontrava tudo. Os defeitos nos carros dos tchecos, as lojas de comida, encontrava parafusos na neve de inverno. Teria encontrado o amor não fosse por aquela menina distraída. Encontrou emprego, encontrou amigos, encontrou o próximo no estrangeiro.
Existe uma folha de rascunho perdida em Hala 30, num endereço que eu nunca encontrei.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
em poucas palavras ou um pé de palavra
E então, ando pelas bancas enfileiradas e nunca esqueço de pedir: por favor, um pé de palavra pra mim!
Depois, me lambuzo com a sensação de palavra usuária de todos os meus sentidos.
Palavra doce ou amarga, palavra silenciosa ou desafinada. Não existe uma palavra ruim.
Todas carregam um porquê ou uma descoberta para além de mim.
E neste blog Pé De PaLaVrA coletivo, habitado por palavras amigas, palavras tortas, palavras e mais palavras, já vejo uma horticultura... ou um jardim?
Quem dá mais? quem dá mais? Tem uma palavra fesquinha aí pra mim?